“Na China, a planta Huang Lian (rica em berberina) tem sido usada para tratar diabetes há mais de 1 400 anos“.
Os autores desta frase, Xiao-We Chen e seus colegas, publicaram, em 2012, um extenso trabalho de revisão acerca dos efeitos da berberina.
Publicado no The Scientific World Journal, o trabalho dos pesquisadores assinala alguns mecanismos de destaque no campo da Diabetes.
A investigação apurou que a berberina:
- aumentou o número de beta-células pancreáticas (produtoras de insulina) e reverteu alterações patológicas das mesmas, aumentando também o volume de beta-células existentes.
- aumentou níveis de insulina no pâncreas e plasma após introdução de glucose.
- regulou os receptores de insulina (InsR), aumentando a sensibilidade à mesma e, portanto, diminuindo a insulino-resistência.
- inibiu a gluconeogénese hepática (formação de açucar “novo”) e a actividade das dissacaridases intestinais, diminuindo a absorção de glucose.
Três estudos de realce na revisão sobre berberina
1 – Zhang Y et al, realizou um estudo que reuniu 116 pacientes com Diabetes tipo II e no qual obteve resultados significativos com berberina. Os pacientes tomaram 1000mg de berberina por dia, durante três meses e com resultados expressivos na diminuição da glucose, tanto em jejum como após refeições, com perda de peso benéfica em muitos dos pacientes.
Destacou-se também diminuições consideráveis a nível de colesterol total e colesterol LDL, triglicéridos e melhorias na esteatose hepática. O estudo assinalou obstipação ligeira a moderada apenas em cinco pessoas e sem outros efeitos secundários.
2 – Yin et al, em 2008, analisou vários pacientes com Diabetes tipo II medicados com Metformina. Durante três meses, tomaram 1500mg de berberina por dia e concluiu que os efeitos benéficos são comparáveis aos da Metformina mas com diminuição de colesterol e triglicéridos.
Paralelamente, a mesma equipa conduziu um outro estudo em doentes que tomaram vários tipos de anti-diabéticos orais e que obtiveram resultados similares. Em qualquer dos estudos, registaram como efeitos secundários pouco frequentes obstipação, diarreia, flatulência e dor abdominal.
“no geral, a berberina é segura e eficaz em doentes hiperglicémicos com função hepática diminuída”
3 – Em 2010, num outro trabalho de Zhang H et al, 97 pacientes tomaram 1000mg de berberina por dia, também com Metformina ou Rosiglitasona. Os efeitos foram comparáveis à medicação. Os autores sublinham que estes efeitos foram obtidos com menos segregação de insulina, o que indica um aumento de sensibilidade à insulina. Assinalou-se ainda, após a toma de berberina, a expressão de recetores de insulina significativamente aumentada em 3,6 vezes.
Berberina em patologias diabéticas
Os autores desta revisão referem ainda um estudo efectuado em diabéticos com função hepática diminuída por
Hepatite B ou C. A berberina foi utilizada nestes doentes, com 1000mg por dia e durante dois meses.
Em ambos os grupos, a berberina reduziu significativamente os níveis de glucose e triglicéridos, diminuindo também os níveis de enzimas hepáticas, ALT (alanina transaminase) e AST (aspartato aminotransferase) nestes doentes. Segundo os autores, “no geral, a berberina é segura e eficaz em doentes hiperglicémicos com função hepática diminuída”.
Ainda relacionado com o tema, assinalamos a investigação em complicações recorrentes no doente diabético:
Dois estudos pré-clínicos, um trabalho de 2015 e outro de 2016, de cientistas de várias entidades chinesas apontam para o potencial benefício na protecção renal, através de vários mecanismos, da berberina em Nefropatia diabética.
Em 2013, Hsu et al (7), da Kaohsing Medical University, Tailândia, e Moghaddam et al (8), da Sharoud University of Medical Sciences, Irão, assinalaram os efeitos antioxidantes e neuroprotectores da berberina.
Nestes estudos pré-clínicos, o estudo tailandês vinca a importância daqueles efeitos na Neuropatia diabética, enquanto a segunda investigação sublinha a importância daqueles efeitos nas alterações cognitivas e demência no doente diabético.
Cientistas de duas instituições chinesas assinalaram em testes in vitro os possíveis benefícios da berberina em Retinopatia diabética, por efeitos inibitórios junto dos leucócitos que atacam as células da retina e por activação da enzima AMPK.