O colesterol é um tema muito presente quando se fala em saúde. Foi tornado o inimigo público numero um para o coração e inúmeras ferramentas farmacológicas foram desenvolvidas para o seu combate. Numa brochura feita para Fundação Portuguesa de Cardiologia – “Tudo o que deve saber sobre o colesterol” – são mencionados valores máximos de colesterol mas, estranhamente, não são referidos valores mínimos, ficando a sensação de que, quanto mais baixo melhor, quando a realidade é bem diferente.
Haverá riscos para a saúde se o colesterol baixar excessivamente? A resposta é sim, e os riscos são bastante mais graves do que se pode imaginar.
O Colégio Americano de Cardiologia e a American Heart Association têm como guidelines um limite mínimo para o colesterol LDL de 40mg/dl. O colesterol total deverá estar acima dos 120mg/dl, senão entramos num processo de hipolipidemia.
As estatinas de última geração (fármacos usados para redução do colesterol total e LDL) são cada vez mais rápidas e intensas na sua ação, podendo haver um risco de reduções excessivas. O colesterol é uma gordura essencial obtida por via alimentar e também produzido internamente pelo fígado.
Esta gordura é vital para nós e eis alguns motivos:
- participa na produção de vitamina D;
- participa na produção de hormonas esteróides (como a aldosterona e cortisol) e hormonas
sexuais (progesterona, testosterona e estrogénios) tendo, por isso, influência na fertilidade; - o colesterol é um dos principais componentes a compor a bílis, produzida pelo fígado, importante no processo digestivo das gorduras alimentares e na absorção de vitaminas lipossolúveis;
- entra na constituição da paredes de todas as células do nosso organismo e na manutenção do seu normal funcionamento, a destacar as células cerebrais.
O cérebro contém cerca de 25% do colesterol total do organismo, que vai ser importante para a constituição da membrana de mielina – que compõe os neurónios – e na formação de sinapses, estruturas fundamentais para o bom funcionamento cerebral.
“o excesso de colesterol é um risco cardiovascular, mas a sua redução excessiva apresenta iguais perigos”
Apesar da gestão dos níveis de colesterol cerebral ser efetuada de uma forma diferente da que é no resto do corpo, as estatinas parecem conseguir passar a barreira cerebral e induzir uma redução desta “reserva”, levando a alterações na memória e processos cognitivos.
Com menos colesterol a contribuir para a viscosidade das membranas sinápticas surge também uma redução no número de recetores de serotonina, com consequente redução dos seus níveis no organismo. Este neurotransmissor está associado à sensação de alegria e bem-estar, controlo do sono e ansiedade. A sua carência, por sua vez, está associada à depressão.
Dados científicos têm vindo a associar o uso de estatinas (fármacos usados para baixar o colesterol) a uma maior tendência para depressão e sintomas depressivos, assim como baixos níveis de colesterol LDL a depressão.
Em resumo, o excesso de colesterol é um risco cardiovascular, mas a sua redução excessiva apresenta iguais perigos. O uso continuado da medicação, em detrimento de um real processo de reeducação alimentar, em alguns casos, pode evitar a hipolipidemia. Monitorize os seus níveis de colesterol e para melhor orientação consulte um nutricionista.